08/02/2017

ACABE COM A HESITAÇÃO (e consiga um encontro de brinde?)

por Dr. Noa Kageyama, publicado originalmente no blog do site The Bulletproof Musician

2CELLOS - foto encontrada aqui

Quando foi a última vez que você chamou um completo estranho para sair? Não apenas qualquer estranho, mas alguém que você achava que era muita areia pro seu caminhãozinho? Qual seria sensação de considerar a possibilidade de chegar nesta pessoa e pedir seu número de telefone?

Se você for como a maioria, seu coração estaria batendo feito doido, a pressão indo às alturas, as glândulas sudoríparas trabalhando dobrado, e a sua mente acelerada com medo da rejeição ou de passar vergonha.

Você tentou mesmo assim? Se sim, palmas para você, precisa de coragem para dar a cara à tapa desse jeito.

Ganhar uma audição, sendo um artista envolvente e inspirador exige essa mesma coragem. Executar música é um ato muito pessoal. Quando entramos no palco, estamos muito expostos. Todos os olhos e ouvidos estão em nós, temos apenas uma chance de fazer o que passamos inúmeras horas (dias, semanas, meses, até anos!) preparando, de apresentar nossas escolhas artísticas e emoções para que todos possam ver.

Os artistas mais dinâmicos parecem destemidos. Eles colocam seu coração e alma em sua arte e não se contêm. Você concordando ou não com as escolhas que eles fizeram, suas decisões interpretativas são claras e inequívocas - eles tomaram uma postura clara.

De uma perspectiva técnica, eles não tocam “em segurança" ou hesitantemente, e seu foco não é evitar erros. Em vez disso, eles apostam todas as fichas desde a primeira nota. Dinâmica, tempos, ritmo, linhas são claramente delineadas e executadas. Como Mestre Yoda disse em Star Wars: "Faça ou não faça. Tentativa não há.”

Já ouviu o ditado “Você sabe que vai perder, mas ao menos perca lutando”?*  Isso significa que mesmo sabendo não vai ganhar a luta, você não vai perder quietinho não.

* "If you’re going to go down, you might as well go down swinging" é uma expressão americana vinda do baseball. O cara com o bastão sabe que não vai conseguir acertar a bola, mas tenta mesmo assim, até o último segundo, com todo o seu ser e ainda rangendo os dentes.

Se você vai chutar, chute. Se não vai, então não chute. Mas em qualquer um dos casos, não chute hesitantemente, porque isso é certeza de resultados medíocres. No contexto da música, se você vai errar, erre a plenos pulmões.

Mais fácil falar do que fazer, claro. Escrevi sobre construir coragem no palco em um post anterior. Agora eu gostaria de dar um passo a mais e desafiá-lo a ser mais corajoso fora do palco, o que se traduzirá diretamente em sua coragem no palco.

Do que será que eu poderia estar falando? Ahm... bem, você não sabia disso na hora, mas o primeiro parágrafo era uma dica do que estava por vir.

Chamada à Ação

Para os próximos 2 dias, comprometa-se com o seguinte desafio de construção de coragem (crédito desse exercício vai para o incomparável Tim Ferriss).

Vá para um lugar onde tenha muita gente. Um shopping, por exemplo.

Seu desafio é conseguir pelo menos 2 números de telefone (ou whatsapp, ou Face, considerando os novos tempos) de pessoas que você achar atraente. Ao invés de agonizar sobre isso por horas e ajustar os nervos para abordar uma pessoa, é melhor chegar em um monte de gente em um curto período de tempo. É que nem tirar band-aid: dói muito menos se puxar rápido.

Seu objetivo é chegar em 5 pessoas em 5 minutos. E, obviamente, certifique-se de que a pessoa está bem fora de alcance antes de passar para o próximo.

Precisa de um roteiro? Tente algo assim:

“Com licença, eu sei que isso pode soar estranho, mas se eu não pedir seu número de telefone eu vou ficar muito bravo comigo mesmo o resto do dia. Eu tenho que correr pra encontrar um amigo agora, mas eu juro que não sou o assassino da machadinha nem nada assim. Você pode até me dar um número falso se não estiver interessada.“ (troque os gêneros conforme sua preferência)

Não importa se você é um garoto ou uma garota, na adolescência ou na casa dos 60. Se você já está num relacionamento, apenas finja que você está coletando números para uma petição de algum tipo.

Dá vontade de desistir do desafio? Tudo bem! É uma reação muito natural. Mas lembre-se: se o medo consegue ganhar de você no dia-a-dia, vai ser muito difícil impedi-lo de te paralisar no palco.

Qual a pior coisa que pode acontecer?

Lembre-se que os resultados não são importantes. Conseguir 2 ou 20 números é irrelevante; você agir apesar de seu medo natural é que é o fator importante.

Em todo caso, eu prometo que quanto mais você fizer, mais fácil fica. Especialmente porque sua zona de conforto se expande e sua coragem fica mais forte.

Afinal, qual é a pior coisa que pode acontecer? Um perfeito estranho que você provavelmente nunca mais vai ver na vida te olha torto e vai embora. Não é divertido, claro, mas não é como pular de para-quedas, onde a pior coisa que pode acontecer é permanente.

Tome um momento e anote o seu maior medo, aquela cena pior de todas. Muitas vezes, nossos medos parecem menores e mais bobos quando os vemos no papel.

Agora, considere o melhor cenário. Aumento da coragem. Performance mais dinâmica, confiante e provocativa. Talvez até um novo relacionamento emocionante?

Resumo de uma frase

"Música é a sua própria experiência, seus pensamentos, sua sabedoria. Se você não viver isso, ela jamais sairá do teu instrumento.” 

Charlie Parker

Achei esta foto aqui

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Dr. Noa Kageyama é um violinista que resolveu partir para a área da Psicologia da Performance e hoje integra o corpo docente da Juilliard School e New World Symphony em Miami, além de ser convidado das principais instituições de ensino de música nos EUA, ensinando músicos como tocar o seu melhor sob pressão através de aulas ao vivo, treinos e um curso on-line.


Tradução autorizada, por Helena Piccazio.

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